"Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido". Lucas, 8:17,12:2 em Mateus10:26

"Corra o juízo como as águas; e a justiça, como ribeiro perene". Amós (570-550 a.c.)

"Ninguém pode ser perfeitamente livre até que todos o sejam".

Santo Agostinho

sábado, 11 de agosto de 2012

A escolinha do Gurgel

NO JULGAMENTO EXIBIDO EM CADEIA NACIONAL HÁ DE TUDO: ROLANDO LERO, SAMBARILOVE, BERTOLDO BRECHA E MUITOS OUTROS PERSONAGENS HILÁRIOS
A figura lembra Jô Soares, mas a inspiração veio do mestre Chico Anysio. Roberto Gurgel – ou Gurjô, como preferem alguns – produziu material didático para crianças. O chefe do Ministério Público Federal quer o mensalão em salas de aula e elaborou uma cartilha, disponibilizada no site “Turminha do MPF”, que indignou o PT. Os antigos comunistas, que no passado eram acusados de devorar criancinhas, hoje acusam o procurador-geral de promover lavagem cerebral contra o partido.
Personagem do dia no julgamento do mensalão: o procurador Roberto Gurgel Lia de Paula/Agência Senado/Divulgação
Gurgel, que se coloca como porta-voz da ética e da honestidade na cartilha, demonstrou interesse pessoal na causa e, por isso, já é alvo de uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público, proposta pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). De todo modo, não deixa de ser interessante estimular o estudo da Ação Penal 470 em salas de aula. O que, além de pedagógico, é também divertido.
Nas sessões do Supremo Tribunal Federal, a disputa pelo papel de Rolando Lero foi acirrada. Terá sido o criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende o ex-deputado João Paulo Cunha? “Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Comi-o”, disse Toron, citando Oswald de Andrade. Ou terá sido Marcio Thomaz Bastos, a quem o “amado mestre” se encaixaria perfeitamente antes de cada uma de suas falas?
Sambarilove, no julgamento, há um só. É Roberto Jefferson, malandro à moda antiga, que ora diz uma coisa, ora diz outra. Ora o mensalão existiu como mesada parlamentar, ora como “figura retórica” e construção mental. Ora o chefe era José Dirceu e, agora, sua defesa aponta as baterias contra o ex-presidente Lula.
Zé Dirceu, aliás, quem será? Joselino Barbacena, aquele que se escondia do professor? “Larga d´eu sô!”. E os advogados do Rural, que se revezam no papel de Maria Jacinto Pena? Aquela que sempre lembrava, em tom choroso: “Ele morreu”. Sim, todas as responsabilidades no Rural recaem sobre o ex-presidente José Augusto Dumont, morto em 2004, num acidente de carro.
A nota de cada um dos alunos não caberá ao professor Gurjô, mas aos 11 ministros do Supremo que também desempenham papéis curiosos. O presidente Ayres Britto é um beletrista, que lembra o Ptolomeu. Ricardo Lewandowski, que deve passar horas lendo seu voto de relator, poderá dizer: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Só terá que tomar cuidado para que Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes não voltem a dormir no fundo da sala, como já fizeram nos primeiros dias do “mensonão”, assim batizado por José Simão.
Com um julgamento político exibido em cadeia nacional de rádio e televisão, o Brasil também aprende que um processo tem dois lados – acusação e defesa – e que não deve se submeter a pressões externas. Com a palavra final, Bertoldo Brecha: “A ignorança é que astravanca o progréssio e zé-fi-ni”.

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