"Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido". Lucas, 8:17,12:2 em Mateus10:26

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"Ninguém pode ser perfeitamente livre até que todos o sejam".

Santo Agostinho

quinta-feira, 3 de março de 2011

WIKILEAKS – ELEIÇÕES DE 2006 - CAP. I



O grande mérito do site WikiLeaks, foi desnudar as relações sigilosas havidas pela diplomacia dos EUA com os diversos governos, autoridades públicas e privadas.


Se bem que o retrato é parcial, pois abrange determinado período de tempo e a linguagem diplomática é cheio de cuidados, podemos montar um quebra-cabeças incompleto com encaixe de muitas peças.  


Este trabalho mostra a atuação de alguns de algumas figuras políticas de destaque no cenário nacional.  Apenas reproduzo, não faço julgamentos.  Quem tiver oportunidade de ler o que se segue poderá elaborar as suas conclusões.  Favoráveis ou desfavoráveis.


fonte: Blog da Natália Viana - http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com/


 Natália Viana, vencedora do Troféu Mulher Imprensa 2010, categoria Repórter de site de notícias

Primeira parte 

Tanto a embaixada dos EUA sediada em Brasília como o seu respectivo Consulado de São Paulo procuraram acompanhar as eleições presidenciais de 2006, principalmente as campanhas dos candidatos mais fortes Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Rodrigues Alckmin.


Christopher MacMullen, cônsul-geral de SP à época, manteve diversos contatos com a equipe do candidato tucano que era formada pelo coordenador Souza Meirelles, e mais Sérgio Guerra, Tasso Jereissati, Gilberto Kassab, José Serra, Barros Munhoz, Aloysio Nunes, José Agripino, Rodrigo Maia, José Roberto Arruda, Álvaro Dias e outros.  Nos informes, MacMullen não apostava na vitória de Alckmin.

Além dos acima apontados, os diplomatas norte-americanos consultaram Arthur Virgílio (PSDB/AM), Antonio Carlos Magalhães (PFL/BA), Jarbas Vasconcellos (PMDB/PE), José Carlos Aleluia (PFL/BA) e Hélio Costa (PMDB/MG), então ministro das Comunicações. Também consultaram especialistas em economia e política externa ligados ao PSDB e membros de vários institutos de pesquisa.

O presidente local do banco JP Morgan, Charles Wortman, não fazia distinção significativa entre as políticas macroeconômicas dos candidatos Lula e Alckmin a qual já estava institucionalizada.

Raul Velloso, economista vinculado ao PSDB avaliava que a diferenciação entre os candidatos estava na política microeconômica.  Que Geraldo Alckmin estaria disposto a investir no projeto da ALCA, de inspiração dos EUA e que atuaria de “maneira mais tradicional e pró-EUA”.  

Outro telegrama do Consulado SP cita a opinião de especialistas tucanos como Celso Lafer, ex-ministro de Relações Exteriores, os ex-embaixadores Rubens Barbosa e Sérgio Amaral, e o então senador Arthur Virgílio.  Todos eles, de modo geral, afirmaram que a política externa de Lula foi um fiasco, com diretrizes ideológicas erradas, instáveis e geridas de forma incompetente.

A conclusão da embaixada norte-americana era de que Lula, caso reeleito, seguiria a mesma orientação política, isso é, com valorização de sua imagem de influente líder regional moderado e que isto, no ver dela, deveria ser encorajada.

A diplomacia estadunidense baseava-se na gestão macroeconômica ortodoxa praticada, de modo surpreendente, em seu mandato iniciado em 2002. 

Conversas com MICHEL TEMER
O cônsul MacMullen manteve vários contatos com o presidente do PMDB, que já na época era Michel Temer, para saber das posições a serem adotadas pelo partido. O partido acabou por não lançar candidato próprio.

 Marcela e Michel

Michel Temer demonstrou, segundo relatos do cônsul, disposição em estabelecer coligação PMDB-PSDB, por ausência absoluta candidato de seu partido com boas condições de disputar o pleito, e mesmo porque seu partido, anteriormente, apoiara os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – 1994/1998 e 1998/2002.

Ouviu de Temer acusações de ter o PT praticado fraude eleitoral após ter vencido as eleições de 2002, pois, seu programa eleitoral não foi cumprido nem foi posto em prática. Julgava que os programas sociais lançados por Lula, caracterizavam-se por visão estreita dos problemas, não promoviam o crescimento e o desenvolvimento da economia nacional. O dirigente partidário afirmou ainda que líderes petistas desviaram dinheiro não em benefício próprio, mas para aumentar o poder do partido.

Nessas conversas, Temer chegou a afirmar que o ora falecido Orestes Quércia (PMDB) liderava pesquisa para o governo do estado de São Paulo. O vitorioso foi José Serra (PSDB).

Perguntado sobre qual programa político o PDMB viria a adotar caso concorresse, Temer declarou-se pelo crescimento da economia, além do fortalecimento do Mercosul e uma possível aliança com a ALCA, um programa inspirado pelos EUA.

Em posteriores conversas, segundo Michel Temer , Lula recompensava mal o trabalho de seus colegas do PMDB que estavam no governo, pois, eles não tinham o controle real do ministério.

Clientelismo
O cônsul-geral comentou em um dos cabos que o PMDB, caso dominasse totalmente o ministério praticaria clientelismo em larga escala à custa do contribuinte mesmo porque o partido ressentia-se de ideologia e plataformas políticas.

Políticos baianos – ACM E ALELUIA
Membros da diplomacia dos EUA foram também em busca das opiniões dos políticos Antonio Carlos Magalhões e José Carlos Aleluia, ambos do PFL.


Aleluia mostrava-se frustrado com a provável derrota de Alckmin, porém foi contundente nas suas análises: achava que Lula abusava da autoridade e praticava corrupção. Mantinha elevado gasto público com custeio e baixo investimento. Que Lula “comprou” universidades, tribunais, o Ministério Público e a Polícia Federal. Citou que a forma de “comprar” as universidades era criar novas unidades, criar cargos vitalícios para os acadêmicos e criar pensões às mulheres dos pesquisadores.  Disse que as “folhas de pagamento estão inchadas” e que o Brasil se tornou “um país do concurso público”.  Atacou o programa do Bolsa Família declarando que ela passou a atender cerca de 11 milhões de famílias e que isto encorajava as pessoas beneficiadas a não procurar trabalho e a viver na dependência do auxílio público.

O político baiano criticou a falta de investimento em estradas, as elevadas taxas de juros, o baixo crescimento econômico, a taxa de câmbio desfavorável à agricultura.  Para ele, apenas a balança comercial se apresentava a contento, porém deveria ser melhorada.

Sobre as eleições propriamente ditas, Aleluia afirmou que se 80% dos nordestinos decidissem votar em Lula, 10% desses votos se perderiam por absoluta incapacidade de saber votar daquele povo.

O Cacique Antonio Carlos Magalhães
ACM, o “senhor da guerra”, também foi contatado e disse que Lula, caso ganhasse a eleição, fracassaria se tentasse montar um governo de reconciliação. Calculava ele que a oposição teria maioria do Senado e apenas cerca de seis partidos sobrariam depois das eleições de 2006 devido à cláusula de barreira.


Comentou que tanto o PFL como o PSDB eram legendas de direita, além de acreditar da impossibilidade do PT e PSDB vir a unir-se em um futuro por serem partidos competidores e por Fernando Henrique Cardoso não permitir.

Afirmou que Lula sabia de toda a corrupção existente em seu governo, que a oposição perdeu a oportunidade de propor o impeachment dele no seu primeiro mandato, mas que poderia fazê-lo no segundo.

Disse que havia sugerido a Alckmin atacar seu adversário enfocando a corrupção e que já notava algum efeito favorável.

Afirmou que a maioria da população se preocupava com a corrupção, mas os mais pobres achavam que “Lula é amigo deles e todos os políticos roubam”.  Para ele, Lula escapou de ser envolvido diretamente nos escândalos porque o Ministro responsável pelo Ministério Público o controlou. Acusou Lula de haver “comprado um monte de gente”, incluindo ONGs, as quais ACM julgava “todas corruptas”.

Os diplomatas norte-americanos, com base em informações colhidas junto a políticos e alguns jornalistas, faziam previsões de que Lula enfrentaria dificuldades no Senado em um possível segundo mandato. O diplomata Philip T. Chicola assinou mensagem em que dizia que “apesar dos melhores esforços de Lula, estariam suas ações sujeitas a algum grau de entrave”, além de reconhecer que a influência de ACM era menor por causa do escândalo do painel do Senado, ocorrido em 2001.



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