"Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido". Lucas, 8:17,12:2 em Mateus10:26

"Corra o juízo como as águas; e a justiça, como ribeiro perene". Amós (570-550 a.c.)

"Ninguém pode ser perfeitamente livre até que todos o sejam".

Santo Agostinho

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

NOVELA DE VERÃO  -  TRAGÉDIA ANUNCIADA


O script da Novela de Verão é sempre o mesmo.  Entra ano sai ano ela é levada “ao ar”. E prescinde de ensaio geral.  O “copião” é de cor e salteado por todos.

Muitas vezes, os atores e os cenários se repetem.  Os “novelistas”, eventualmente, são trocados a cada quatro anos.  Outros permanecem por oito anos a fio.

Os atores, regra geral, são crianças, mulheres e homens de idades variadas, pequenos empresários, profissionais liberais.  A maioria deles pertence à classe dos despossuídos.  Detentores do voto, porém sem voz que, se exercitada, com certeza será atendida pela política do ouvido mouco, sorriso nos lábios, porrete nas mãos.

Os mais abastados raramente dela participam e, quando o fazem, o cenário ambientado é diverso, luxuoso, inclusive, com final quase sempre feliz.

A verdade é que atores sem eira nem beira são os verdadeiros partícipes da novela-tragédia que, na realidade, acaba por ocasionar-lhes dor e sofrimento.  Nela, salvo alguns poucos heróis de "trinta segundos de fama", não há “mocinhos” ou “bom-mocismo” como se dizia antigamente. Longe de representar  “bandidos”, formam um enorme contingente de coadjuvantes anônimos.

Os cenários são os de destruição, de barrancos desmoronados, árvores tombadas, enxurradas que carregam terra, paus e pedras encosta abaixo.

A terra se transforma em lama que a tudo invade e destrói; as águas barrentas dos córregos e as dos rios se agigantam.  Arrastam tudo o que e quem ouse interpôr-se ao seu curso. 

Nas ruas pessoas tombam na forte correnteza, veículos bóiam.  Casas, oficinas, lojas sob a água ou tragadas por ela.

Corpos feridos e os já sem vida são retirados dos escombros, o desespero e o medo tomam conta das pessoas, lágrimas vertem nos rostos sofridos daqueles que perderam parentes, amigos, vizinhos. 

A Mídia a nos mostrar, incessante e exaustivamente, a tragédia. Nossa velha e indesejada conhecida.

As costumeiras entrevistas concedidas por “especialistas” (grande parte pertencente a partido diferente do governante da época) que, de antemão tudo sabiam e vaticinavam, fazem as mais diversas colocações, algumas até factíveis.  E, como num passe de mágica, aviam receitas tipo panacéia. 

Finalmente, há os “novelistas”, os autores fazedores das tragicomédias.  No caso, as autoridades, eleitas, escolhidas ou nomeadas por concurso, sejam as do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, de qualquer âmbito, que se apressaram a prometer as mais vistosas e inovadoras novelas.  Porém e ao cabo, acabam por exibir as enlatadas tipo mexicano, quando não comédia pastelão.   

Fora as catástrofes imprevisíveis, TODOS NÓS temos culpa por estes acontecimentos.

Nós, enquanto cidadãos mais conscientes , quando deixamos de cobrar, antecipada e veementemente, medidas saneadoras e preventivas; 


população mais carente de educação e de cidadania, de recursos financeiros, de moradia digna, que se deixa levar pelo conformismo; e


autoridade governamental, em boa medida alheia e insensível, acomodada ou impotente, despreparada ou ineficiente, a bem intencionada e a má formada de caráter. Esta, verdadeira locupletadora da Res publica.    

THE END

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